O mês da Paralisia Cerebral
Estamos no mês da Paralisia Cerebral. Comemorou-se no passado dia 6 de outubro, o dia mundial da Paralisia Cerebral (World CP Day) e no próximo dia 20 de outubro, comemorou-se o dia nacional da Paralisia Cerebral. O mote internacional para este ano é “Milhões de motivos“ para se falar sobre Paralisia Cerebral e foi neste sentido que me desafiaram a escrever algumas palavras.
Não é fácil falar sobre este tema. Existem bastantes preconceitos que precisam urgentemente de serem desmistificados.
Quando falamos na pessoa portadora de deficiência motora, na generalidade, associa-se a esta condição física, a incapacidade de: o levar uma vida normal, de se inserir na comunidade, de partilhar a vida na sociedade, o que não e completamente verdade.
A sociedade de hoje, já esta mais sensível a estas pessoas mas apesar disso elas ainda se debatem diariamente com algumas barreiras arquitetónicas e muitas vezes, são vistas como pessoas com capacidade intelectual inferior só porque têm problemas motores muito acentuados.
Sou portador de deficiência motora, e todos os dias me deparo com algumas dificuldades. Todos os dias me encontro com a indiferença. Podia mencionar “ Milhões de motivos” para se falar sobre a Paralisia Cerebral, mas para este desafio vou mencionar pelo menos três.
A minha deficiência é muito ligeira, apesar disso, deparo-me todos os dias com algumas barreiras arquitetónicas. É verdade que já assistimos a uma mudança significativa tanto na arquitetura como na sensibilidade das pessoas responsáveis mas ainda há imensa coisa a fazer e a mudar. Em muitos espaços como restaurantes, uma pessoa com cadeira de rodas não consegue entrar porque o intervalo entre o mobiliário não permite; em algumas instituições públicas faltam rampas e elevadores; na via pública faltam passeios livres de obstáculos para facilitar a nossa mobilidade…
Outro motivo para se falar sobre a deficiência é o mercado de trabalho. Existem ainda imensos obstáculos à contratação destas pessoas. Um deles, surge na dúvida por parte da entidade patronal da pessoa ser capaz ou não de desempenhar a tarefa que lhe é destinada. É preciso mais ações de sensibilização, mais políticas de inclusão social; é preciso criar mais oportunidades para estas pessoas mostrarem que apesar de terem dificuldades motoras, são tão capazes como as outras de desempenharem as suas tarefas.
Falar sobre a Paralisia Cerebral é ainda falar o preconceito gigante da sociedade. Vivemos ainda numa sociedade bastante estigmatizada. É preciso desmistificar que Paralisia Cerebral, não é nenhuma doença mas uma condição física. É preciso desmistificar que deficiência não é sinonimo de dependência de terceiros, nada disso, que podemos levar uma vida normal, apesar de termos algumas limitações. É preciso desmistificar que deficiência não quer dizer menor rendimento escolar e profissional.
Precisamos de uma sociedade mais inclusiva, que não olhe para as pessoas deficientes como “coitadinhos”, mas como pessoas, apesar da sua diferença, aptas e com capacidade para participar na vida em sociedade. E neste sentido a família tem um papel fundamental. É com ela e com a ajuda dela que vamos conseguindo mudar mentalidades, pois é ela que nos acompanha nos momentos bons e menos bons. É na família que procuramos o nosso porto de abrigo, é onde desenvolvemos a nossa formação pessoal.
Como já referi em cima, muita coisa já mudou, mas é preciso fazer muito mais. Acredito que nos próximos anos as novas gerações, tenham outra visão para com estas pessoas. É preciso fazer ver que a Paralisia Cerebral tem vários graus; se há uma percentagem de pessoas em que a sua deficiência é bastante profunda e precisam de cuidados constantes, há outra percentagem com um grau de deficiência mais leve, e que conseguem levar uma vida normal e participar ativamente em sociedade. Para isso, só precisam de um empurrãozinho e de uma oportunidade, para mostrarem de que são capazes.
Concluo com uma frase feita «não basta haver boa legislação, é preciso que os nossos governantes a cumpram e façam cumprir»